Pela inclusão na formação superior
Imaginem um bacharel em comércio exterior, recém-saído da faculdade, assumir um importante posto de trabalho. Imagine um economista recém-formado, também sem experiência, assumir um cargo em um grande banco de investimentos. É quase impossível que isso aconteça. Em primeiro lugar porque o estágio profissionalizante faz parte do currículo da maior parte dos cursos de graduação e possibilita ao formando colocar em prática a teoria que aprendeu em sala de aula; e em segundo, porque a ascensão profissional segue o ritmo da meritocracia e do plano de carreira das empresas.
A formação acadêmica moderna está centrada mais na constituição de competências, habilidades e disposições de condutas do que na quantidade de informação. Isso significa que o aluno aprende a aprender, a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência cotidiana, a dar significado ao aprendizado, a fazer a ponte entre a teoria e a prática, além de fundamentar a crítica e argumentar com base em fatos.
Agora imagine o contrário. Um profissional da área de informática, com vários anos de experiência, com habilidades e competência para assumir um cargo de gerência, mas sem formação superior. Sim, concordo que há empresas que retêm esses talentos, independentemente de sua formação acadêmica. Mas são exceções. Para fazer carreira, é necessário, além de muita competência, ter uma sólida formação acadêmica e conhecimento multidisciplinar.
Para fazer carreira, é necessário, além de muita competência, ter uma sólida formação acadêmica e conhecimento multidisciplinar
Assim como o jovem recém-formado tem o estágio profissionalizante como uma ferramenta para seu ingresso no mercado de trabalho, o profissional experiente, sem formação superior, pode validar suas habilidades e competências para que lhe proporcionem formação acadêmica e cultura abrangente.
Explico melhor. Há mais de vinte anos, é utilizada com sucesso, em vários países europeus e na América do Norte, uma metodologia de ensino fundamentada no aprendizado pelo trabalho – Work-Based Learning. Nele, as competências e habilidades do profissional são validadas, e o próprio trabalho e seu ambiente são utilizados como case e programa de aprendizagem.
A experiência e o dia a dia no trabalho são tão importantes na aprendizagem como a teoria que é aprendida na sala de aula. Já dizia Paulo Freire, patrono da educação brasileira, que é preciso trabalhar a realidade do cotidiano do estudante para uma aprendizagem efetiva. A fundamentação teórica é complementar à aprendizagem prática. É o aprender fazendo com o aprender pensando a respeito do que está sendo feito, e isso se aplica tanto ao estágio profissionalizante quanto ao Work-Based Learning.
A experiência e o dia a dia no trabalho são tão importantes na aprendizagem como a teoria que é aprendida na sala de aula
Essa metodologia, além de conduzir a uma aprendizagem sustentável, leva o profissional à aquisição de novos conhecimentos, os quais são construídos e conectados com os conhecimentos já existentes.
Há que se destacar o importante papel de gestores e carreiras das empresas que são responsáveis pela validação das habilidades e competências dos funcionários, junto com o professor-tutor, que facilita e auxilia a aprendizagem sem ser a fonte primária de informações, explorando e estimulando o pensamento dos funcionários-estudantes.
No Brasil, de acordo com Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2014, apenas 16% dos trabalhadores brasileiros possuem formação acadêmica superior, e três em cada dez pessoas da força de trabalho brasileira não tinham sequer concluído o ensino fundamental. A proposta da educação pelo trabalho é oferecer uma nova alternativa de aprendizagem para adultos trabalhadores.
O ensino superior brasileiro vem se libertando de preconceitos e conservadorismo. Um grande exemplo disso é a disseminação da Educação a Distância (EaD). O Work-Based Learning é uma das alternativas para inclusão de jovens e adultos trabalhadores no ensino superior.
Com essa nova metodologia, todos têm a ganhar: estudantes, professores, faculdades e empresas, além, é claro, do próprio País, que pode se orgulhar por ter uma população adulta trabalhadora, com cursos superiores nas respectivas áreas de atuação. Educação vem sempre em primeiro lugar, e não faltam oportunidades e alternativas de aprendizagem para quem quer e precisa aprender. O Work-Based Learning é um bom modelo para ser implementado e oferecido como opção aos brasileiros ainda sem formação superior.